Radiação do Bem

Provando que nem toda química faz mal à saúde, estudiosos vêm aplicando a técnica aos alimentos

Por Ana Lethicia Maezano

Bianca Passerini

Melissa Leite de Castro

Yasmin Galli

A palavra radiação nos lembra doença, bomba atômica ou até mesmo aquela difícil aula de química da escola. Mas, mais do que isso, a tecnologia nuclear está presente no nosso dia a dia: na fiação de eletrodomésticos térmicos, no forno de micro-ondas e inclusive nos alimentos.

No caso dos alimentos, a radiação é usada para aumentar o tempo em que podem ser consumidos. As ondas eletromagnéticas eliminam microrganismos e insetos que podem fazer com que o alimento estrague.

O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), no Centro de Tecnologia das Radiações, CTR, são pioneiros nesse estudo. Para submeter o alimento a uma determinada carga de radiação, o Ipen trabalha com um irradiador de cobalto que tem uma câmara, onde coloca-se o produto já embalado. Em seu devido lugar, a comida recebe ondas eletromagnéticas gama.

irradiação

Essa carga pode ter ainda outras finalidades, como a esterilização de produtos e tecidos biológicos, o tratamento de esgoto, a indução de cor em vidros e pedras preciosas.

Não há nenhum risco para os consumidores nesse tipo de esterilização, que já é usada em 37 países. O método foi aprovado pela agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.

A irradiação pode ser usada em cerca de 40 tipos de alimentos, como grãos, especiarias, carnes, peixes, ovos, frutas, legumes.

Dos cinco irradiadores de alimentos usados comercialmente no Brasil, três estão em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outro em Belo Horizonte. Segundo o Ipen, a maior demanda é pela irradiação de condimentos, frutas secas e plantas medicinais.

Há a alternativa de usar tecnologia nuclear também nas lavouras e criações de abelhas, para aumentar a oferta de alimentos.

Quando apicultores irradiam o mel, evitam que ele se contamine. Por exemplo, ao envasar o produto, pode cair uma mosca ou um bicho qualquer. A tecnologia nuclear mata esse ser indesejado e deixa o alimento puro.

Por enquanto, essa tecnologia não existe nos supermercados. Está só na parte experimental.

Se faz mal para insetos, a irradiação não deveria fazer mal para nós também? O engenheiro Eloi Viana explica: “Só faz mal para animais pequenos, porque a meia vida dele é muito baixa e a radiação é aplicada durante um período de tempo muito curto. Passado esse período, a radiação já decai e o produto volta a ser normal”.

Viana afirma que não há previsão para o mel irradiado chagar aos mercados, já que o processo é caro.

Por mais caro que seja, outros alimentos estão sendo submetidos à radiação. Os mais novos alvos são as flores. As plantas, em sua forma comestível, estão ganhando espaço na alta gastronomia, mas estragam fácil. Por isso, a tecnologia nuclear está sendo usada nelas.

Engana-se quem pensa que flores comestíveis são apenas couve-flor e brócolis. Há cerca de 100 espécies próprias para o consumo, entre elas, calêndula, amor-perfeito, capuchinha, cravina, gerânio, borragem, borago, bergamota e rosa.

As flores comestíveis são utilizadas na culinária há centenas de anos, segundo artigo do Ipen, intitulado “Flores comestíveis: múltiplas utilizações do mais belo da natureza”. Há evidências de que elas eram consumidas pelos romanos, chineses e povos do Oriente Médio.

Mas a radiação não só ajudará a alta gastronomia a se renovar. A tecnologia é a solução para imunocomprometidos (pessoas suscetíveis a adquirir doenças graves, a partir de alimentos contaminados, por possuírem um número baixo de células de defesa), pois garante a segurança e a qualidade do alimento, controlando se há ou não micro-organismos patogênicos nele. Isso tudo sem interferir no alimento, já que nenhuma propriedade organoléptica é afetada.

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