Musicoterapia é alternativa no tratamento para combate à depressão

Pesquisa aponta que por meio da música, jovens conseguem desenvolver a capacidade comunicativa e combater distúrbios emocionais e comportamentais.

Por Daniela Bertoncini e Victor Sartori

A depressão é uma doença cada vez mais presente na atual sociedade, tendo sido considerada como o grande “mal do século XXI” por especialistas da área de saúde. De acordo com o ex-secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, no seminário “A crise global da depressão”, realizado em Londres em novembro de 2014, esta enfermidade atinge cerca de 400 milhões de pessoas, o equivalente a 7% da população mundial.

A crença de que este mal afeta indivíduos apenas na idade adulta é muito comum. Porém, a depressão também pode aparecer em crianças e adolescentes, que muitas vezes não entendem os sintomas e dificultam a percepção da doença por parte dos pais. Alguns dos indícios do problema são: falta de interesse em qualquer atividade, angústia, medo da ausência dos pais, reclusão ou até mesmo mudanças drásticas nas etapas do sono.

Segundo Larissa Alves, estudante de psicologia do 6º semestre, a depressão age no organismo devido à desregulação e a diminuição de seretonina e da endorfina, hormônios responsáveis pelo prazer e bem estar. “Essa diminuição pode ocorrer por várias razões, desde causas orgânicas, até externas, como um trauma ou luto”, afirma Alves.

Além dos medicamentos já conhecidos e utilizados por psiquiatras no combate ao distúrbio, existem tratamentos alternativos. Entre eles está a musicoterapia, que estuda  o efeito da música sobre o homem, seja ele por meio de melodias, sons ou instrumentos musicais.

Segundo a musicoterapeuta Aline Labiapari, formada na área desde 2011, o tratamento é guiado de acordo com o histórico musical do paciente (ISO – Identidade Sonora), ou seja, o histórico-sonoro-musical do paciente é uma avaliação realizada de forma que o musicoterapeuta possa a conhecer músicas que são de preferência do paciente, da família, quais a mãe escutou durante a gestação, se algum familiar ou o paciente possui conhecimento musical. Após essa primeira entrevista, o musicoterapeuta utiliza instrumentos, sons e canções para verificar a reação do paciente mediante a esses estímulos. Após essas coletas de dados, o musicoterapeuta já possui um material para poder planejar as primeiras sessões e o que pode ser desenvolvido nelas. Toda essa coleta de dados é necessária para cumprir o principal intuito do programa: recuperar a saúde dos pacientes.

No final do ano passado, foi divulgada uma importante pesquisa realizada pelo Northern Ireland Music Therapy Trust na Queen’s University Belfast, situada na Irlanda,  que aponta o uso da musicoterapia como tratamento na redução da depressão de crianças e adolescentes.

O estudo, financiado pelo Instituto “Music In Mind” de pesquisa e liderado pelo professor Sam Porter, ocorreu entre março de 2011 e maio de 2014, reunindo 251 crianças e adolescentes com distúrbios emocionais ou comportamentais. Os jovens foram posteriormente divididos em dois grupos. Enquanto o primeiro grupo, composto por 128 crianças recebeu tratamentos convencionais, as demais 123 tiveram, além desse cuidado, contato com a musicoterapia.

Os participantes do segundo conjunto receberam 12 horas de sessões semanais de musicoterapia, todas com duração de 30 minutos. Nessas sessões, a música foi usada de várias maneiras diferentes pelos jovens, como na improvisação e na composição de novas melodias. Desse modo, os garotos conseguiram explorar melhor suas emoções e desenvolver com mais facilidade os seus pensamentos.

Além disso, houve uma significativa melhora na autoestima e na capacidade de comunicação e interação com outros indivíduos, e uma redução na depressão daqueles que foram submetidos às sessões. O Northern Ireland Music Therapy Trust garante que os resultados alcançados nessa pesquisa são benéficos que duram à longo prazo. Uma pesquisa similar também realizada por Sam Porter, já havia sido feita em 2011, com 200 jovens do mesmo perfil, e apresentou os mesmos resultados da pesquisa atual.

Para Aline, esses resultados são naturais no campo da musicaterapia, “diversas doenças podem ser tratadas pela Musicoterapia, como síndromes (Down, Rett, West, Williams, entre outras), Parkinson, Alzheimer, Depressão, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDHA), redução da dor, entre outras. A Musicoterapia só não é indicada para as pessoas que possuem Epilepsia Musicogênica”.

Contudo, Larissa afirma que apesar do tratamento via musicoterapia ser uma ajuda, dependendo do caso, não pode ser a única, “da mesma forma que os remédios não podem ser jamais a única forma de tratamento para a depressão. Caso ela seja orgânica, por exemplo, deve-se unir o acompanhamento médico e a terapia”, ressaltou.

Isso acontece porque a música estimula uma ampla gama de áreas cerebrais para reconhecer os diferentes timbres, ritmos, alturas, vibrações, e modulações que as canções produzem. Após a penetração das ondas sonoras, os estímulos seguiram pelo nervo auditivo até chegar no lobo temporal, local onde acontecerá o senso de percepção musical, que decodificará todas as características do som e enfim irá gerar uma resposta, como a sensação de bem estar.

Apesar de não haver um tempo específico para o tratamento via musicoterapia fazer efeito, dependendo de paciente para paciente, Aline alega que os resultados são garantidos. “Após algumas sessões, observei que alguns de meus pacientes conseguiram melhorar a capacidade imitativa, estimular o desenvolvimento da fala, já que algumas crianças que não falavam começaram a cantar trechos de algumas canções, diminuíram algumas fixações e começaram a utilizar os instrumentos musicais de forma funcional. Outros pacientes melhoraram a capacidade motora nas atividades de expressão corporal, quando a terapeuta propôs atividades para imitar gestos e ampliar o repertório de movimentos motores”, diz a musicoterapeuta.

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